Agosto Dourado

Facilitando o aleitamento materno: fazendo a diferença para os pais que trabalham

Com uma campanha acolhedora, o mês de conscientização busca humanizar os cuidados com as famílias durante o período de amamentação

Foto: Divulgação - O leite materno tem todos os nutrientes que o bebê precisa até o sexto mês de vida. Quando ele recebe o leite materno, não precisa consumir chá, sucos ou água.

Por Joana Bendjouya

Mês de agosto é o escolhido para conscientizar a sociedade sobre os benefícios do leite materno, alimento considerado ouro pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Este ano com o tema “Facilitando o aleitamento materno: fazendo a diferença para os pais que trabalham”, a temática da campanha propõe um olhar de mais acolhimento para este momento quem nem sempre é possível para todas as famílias, seja por questões de saúde ou ainda a falta de escolha para aquelas mães que, mesmo com vontade e produção abundante de leite que seria possível suprir a alimentação exclusiva do bebê até o sexto mês de vida, conforme o recomendado pela OMS, não podem fazer pelo fato de necessitarem retornar às suas atividades profissionais ainda no quarto mês de vida de seus filhos, sendo este, para grande maioria das mães, o período final da licença-maternidade.

A amamentação é considerada um dos melhores investimentos para a saúde dos recém-nascidos. Mas para que isso ocorra de forma tranquila, é preciso que exista um ambiente favorável para a prática do aleitamento. Proteção, promoção e apoio à amamentação devem receber a devida importância de forma coletiva e individual, conforme propõe Luciana Quevedo, psicóloga e professora de Saúde e Comportamento da Faculdade de Medicina da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). “É importante ressaltar que existe uma contradição entre o aconselhamento de amamentação exclusiva até os seis meses e licença-maternidade de quatro meses. Alguns estudos evidenciaram que há uma diminuição significativa na amamentação em mulheres que retornam ao trabalho aos quatro meses. Nós temos o incentivo, mas não temos as condições”, salienta.

A amamentação é um direito de toda criança e traz inúmeros benefícios para a saúde do recém-nascido, além de ser uma estratégia de saúde pública de grande importância para diminuir a mortalidade infantil. Segundo dados da OMS, seis milhões de crianças são salvas por ano no mundo devido ao aumento da taxa de aleitamento materno exclusivo.

“A importância da amamentação já está bem documentada na literatura. Ela traz não somente benefícios físicos como emocionais, tanto para criança quanto para a mãe. As campanhas sobre o amamentar são de fundamental importância à saúde pública, mas devemos reconhecer que não é possível para todas as famílias. O fato de não amamentar não diminui a formação de vínculo mãe-bebê, que também se forma no olho no olho, no contato pele a pele e nas conversas. Se fosse apenas a amamentação, as crianças não desenvolveriam vínculo com os pais”, enfatiza a psicóloga.

O leite materno é considerado um alimento completo, é através dele que o bebê recebe os anticorpos da mãe que irão protegê-lo contra doenças como por exemplo diarreia e infecções, principalmente as respiratórias, conforme explica Jamila Vasquez, enfermeira e consultora em amamentação pelo International Board Certified Lactation ConsultantI (BCLC). “Durante o período de amamentação exclusiva o bebê não necessita de nenhum outro alimento, nem de chá, água, suco ou outro tipo de leite. O leite humano é de fácil digestão e é considerado a primeira vacina do bebê, além de diminuir o risco de hipertensão, colesterol alto, diabetes e obesidade”, orienta.

A enfermeira explica ainda que os benefícios não são exclusivos ao bebês. O ato de amamentar auxilia nas contrações uterinas, diminuindo o risco de hemorragia, favorecendo na prevenção de uma séries de doenças. “Enquanto a mãe amamenta, está se protegendo contra o câncer de mama e de ovário, reduz o risco da mulher desenvolver diabetes tipo 2 após a gravidez, além de fortalecer o vínculo emocional com o bebê”, explica.

Para as mães que não conseguem amamentar exclusivamente em decorrência de algumas doenças metabólicas ou no caso de cirurgias mamárias, a suplementação poderá ser um recurso necessário. Jamila explica que sua atuação como consultora de amamentação é vasto, inicia ainda no pré-natal, com orientações para a amamentação e identificação de fatores de risco para baixa produção de leite, traçando assim estratégias junto à gestante para minimizar estes riscos. “É bem comum a sensação de baixa produção que as mulheres vivenciam algumas semanas após a descida do leite. Ao passar dos dias, o corpo entende a demanda do bebê e já não produz leite em excesso e as mulheres nesse momento pensam que a produção caiu e lançam mão da fórmula, o que acaba sendo um erro. A produção de leite está relacionada com a extração de leite do peito. No momento que a mulher oferece a fórmula ao bebê, muitas vezes deixa de amamentar e o organismo entende que, se não há saída, não precisa aumentar a demanda e, com o passar dos dias, se a fórmula seguir sendo ofertada, a produção realmente irá diminuir”, explica.

Ela conta ainda que após o nascimento do bebê, sua atuação poderá ser desde os primeiros dias até o momento em que a mãe ainda sentir a necessidade do suporte, seja devido alguma intercorrência relacionada diretamente à amamentação, ao retorno ao trabalho, à introdução alimentar, ou até mesmo ao momento do desmame. “A gestação e o pós-parto são alguns dos momentos mais intensos da mulher e da família. Nosso trabalho surge como o apoio e compreensão que muitas precisam. Orientamos todo processo de aleitamento materno, além dos cuidados gerais com o bebê. Muitas mães se questionam sobre o melhor momento para deixar de amamentar os filhos, dessa forma o desmame gradual entra em cena, então, para tornar todo o processo mais respeitoso com os bebês, utilizando técnicas para que seja gradativo e sem stress”, explica Jamila.

Estar bem orientada faz a diferença
Quem escuta Paula Weber, mãe da Martina, que atualmente está com cinco anos, contar que ela mamou em livre demanda até os dois anos e cinco meses não imagina o caminho que foi percorrido pela família até que este momento acontecesse de forma tranquila para as duas. A mãe conta que Martina nasceu com uma anomalia congênita da laringe bastante comum, mas que era totalmente desconhecida por eles, e essa condição afetava diretamente o processo da amamentação, mas que o fato de buscar ajuda e profissionais capacitados para facilitar e orientar aquele momento foi essencial para que ela não desistisse e seguisse em frente com a lactação.

"Martina nasceu de 36 semanas e ainda não sabia mamar. Ela tinha laringomalácia, não sabia deglutir, ela sugava e não engolia. Foi um grande stress, eu nem sabia que isso podia acontecer. Para mim, na época, quando o bebê nascia era só colocar no peito que ele já sairia mamando, e não foi, nem sempre é assim. Hoje eu tenho consciência que o acompanhamento é muito importante”, comenta.

Ela conta que foi necessária uma rotina de estimulação, ordenha e muita paciência para que o processo de alimentação exclusiva pelo leite materno pudesse acontecer e entende que isso não é uma realidade para todos. Só foi possível porque, além da rede de apoio, teve esse tempo disponível. “Fui privilegiada de poder estar em casa. Mesmo depois de passar por isso tudo, vejo, hoje em dia, que tive bastante paciência. Consegui alimentar a minha filha. Muitas mulheres não conseguem por sua rotina de trabalho e falta desse apoio, não têm a chance de viver isso. Nós tínhamos uma rotina em que eu precisei ensinar minha filha a mamar, a deglutir. No início eu precisava ordenhar meu peito, massagear e estimular o céu da boca com o meu dedo mínimo e só depois ir colocando o leite de gotinhas na boquinha dela. Por conta disso eu tive mastite, pensava que não conseguiria amamentar ela por muito tempo. Mas eu tive muito apoio e no fim fiquei mais tranquila quando percebi que estava de fato conseguindo alimentar a Martina. Depois fomos parando, fazendo um desmame de forma gentil.”

Rede de apoio especializada
A médica Renata Vernetti Giusti conta que o caminho pela pega perfeita iniciou ainda no hospital, quando nas primeiras horas não foi possível amamentar. Durante os recém quatro meses incompletos de vida de Vitória, ela já passou por diversos atendimentos individuais e com a mãe. Até sincronizar as mamadas em uma rotina de três em três horas com uma duração menor do que uma hora de peito, como era inicialmente, Renata conta que recebeu o diagnóstico que precisava de uma intervenção cirúrgica e acompanhamentos com dentista e consultoras de amamentação.

“A Vitória não mamou nas primeiras horas de vida, fomos para o quarto do hospital e tivemos a ajuda de uma consultora. Nós percebíamos que ela tinha muita dificuldade na pega. Até que, passado um tempo, ela foi diagnosticada com freio lingual alterado, quando com 55 dias ela precisou então fazer a cirurgia para reparar isto. Só que até isso acontecer eu tinha muita lesão nos meus mamilos, precisava fazer seguidamente laser para reparar. Precisamos fazer com ela atendimentos com fonoaudióloga para organizar as funções da pega e das mamadas. Antes da cirurgia, ela ficava cerca de uma hora, uma hora e meia hora no peito e hoje em dia ela mama cerca de 20 minutos de forma produtiva e tranquila para nós duas e em livre demanda. Foi exaustivo no início, mas tenho a consciência que ter encontrado pessoas e profissionais que me ampararam e orientaram fez toda diferença”, afirma.

Direito sim, mas na prática nem sempre
Sem rede de apoio, acompanhamento profissional ou acolhimento do ambiente de trabalho. Foi assim que a enfermeira Letícia Tissiani Paz Acosta viveu seu retorno à rotina profissional. Ela lembra, que diferente do filho mais velho, ela conseguiu amamentar o caçula logo após o parto, não foi uma tarefa fácil. "Foi muito difícil no início, mas logo que nos ajeitamos, nos organizamos, foi perfeito. Cansativo, mas foi perfeito e eu estava adorando viver aquele momento. Como sou enfermeira, quando ia voltar ao trabalho não tinha férias para tirar, precisei trabalhar 12 dias para poder ter férias e ficar mais um mês em casa com ele”, relembra.

Ela conta ainda que esse retorno foi extremamente burocrático e nada acolhedor. Além de bastante dificuldade para administrar a volta ao trabalho, a empresa mudou o seu setor de trabalho, não ofertou ambiente propício para ordenha ou uma rotina que pudesse contemplar o maior período possível de amamentação exclusiva.

Leticia conta que, em virtude desse cenário, precisou iniciar o uso de fórmula antes do desejado, o que não era a sua vontade, e acabou abalando ainda mais o seu emocional. “Até os seis meses foi muito exaustivo e cansativo, a empresa não me ajudou em nada. Depois eu não consegui mais tirar leite porque eu tinha que trabalhar o turno cheio, sem negociação. Não podia parar um minuto a mais para tirar e guardar o leite, com isso tive que introduzir fórmula porque eu não produzia mais como antes. Foi muito frustrante, triste eu me cobrei muito e não podia parar de trabalhar pra ficar em casa com ele.”

Agosto Dourado
O mês de agosto é conhecido como Agosto Dourado por simbolizar a luta pelo incentivo à amamentação. A cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno.

A história da Semana Mundial de Aleitamento Materno teve início no ano de 1990, durante um encontro da OMS com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), quando foi gerado um documento conhecido como “Declaração de Innocenti”. Para cumprir os compromissos assumidos pelos países após a assinatura deste documento, referente ao direito de amamentação, em 1991 foi fundada a Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação (Waba, sigla em inglês). Em 1992, a Waba criou, então, a Semana Mundial de Aleitamento Materno e todos os anos é definido um tema a ser explorado com seus materiais publicitários e de conscientização traduzidos em 14 idiomas com a participação de cerca de 120 países.

Algumas orientações que todos devem saber sobre aleitamento materno, conforme o Unicef:
- O leite materno é o melhor alimento que um bebê pode ter. Mesmo em ambientes quentes e secos, o leite materno supre as necessidades de líquido de um bebê. Água e outras bebidas não são necessárias até o sexto mês de vida.
- Existe o risco da mulher que tem HIV passar o vírus para seu bebê durante a amamentação. A mãe com status positivo para o HIV não pode amamentar, mas o bebê pode tomar a fórmula infantil, em uma situação aconchegante, com a mesma atenção e carinho.
- Bebês recém-nascidos devem ficar perto de suas mães e devem ser amamentados na primeira hora após o parto. O colostro, o leite amarelado e grosso que a mãe produz nos primeiros dias após o nascimento, é o alimento ideal para recém-nascidos e o bebê não precisa de nenhum outro alimento enquanto espera que a mãe produza mais leite.
- A amamentação frequente faz com que a mãe produza mais leite.
- Quase toda mãe é capaz de amamentar com sucesso, algumas precisam ser encorajadas e ajudadas para que possam começar.
- O aleitamento materno protege bebês e crianças pequenas de doenças perigosas.
- A amamentação também é responsável por criar um laço maior entre mãe e filho.
- A partir dos seis meses, os bebês precisam de uma alimentação variada, mas o aleitamento materno continua sendo uma importante fonte de energia, proteína e outros nutrientes, como vitamina A e ferro.
- A mulher que trabalha fora pode continuar a amamentar. Se não for possível estar com o filho durante as suas horas de trabalho, ela deve procurar fazer sempre que estiverem juntos.
- A mãe que amamenta precisa de uma maior quantidade de alimentos e líquidos. Assim, supre suas necessidades e produz leite em quantidade e qualidade adequadas ao bebê.

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